Afro Diálogos em Rede

“NEGA DO CABELO DURO, QUE NÃO GOSTA DE PENTEAR...”


O carnaval já passou, já voltamos todas (os) a rotina de trabalho/ estudos... Mas, como todo ano, as inquietações, o racismo, a hipocrisia não passam. Para mim, principalmente as inquietações só aumentam. Sim, ainda é tempo de falar sobre o carnaval, nunca vai ser tarde demais pra falar sobre o racismo tão presente na vida de pretas (os).



Racismo como construção social e histórica (Moore, 2012). Acrescento ainda, é também uma ideologia, a ideia de que existe raça superior e inferior, isso por que o supremacismo branco, por meio de sua hegemonia discursiva, científica, política e histórica, conferem vantagens e privilégios exclusivos para brancas (os) (Moore, 2012).

Racismo é também relação de poder, sendo assim, sua produção/ prática é essencialmente branca, não há de alguma forma a possibilidade de um racismo reverso. Isso só aconteceria se toda história da humanidade fosse invertida, em que pretas (os) e indígenas estivessem no lugar de opressoras (es), SE as (os) brancas (os) fossem escravizadas (os), SE nós roubássemos e sepultássemos sua identidade, filosofia, ciência, intelectualidade. SE o genocídio historicamente fosse com as (os) brancas (os). 

Voltando ao carnaval, a festa da carne, faz parte da cultura brasileira. É momento de encontro, desencontro, conflito e etc. no qual pretas (os) emboprecidas (os) historicamente trabalham para brancas (os) com seus podres poderes se divertirem. Mais é verdade que racismo é relação de poder, mesmo cultural, carnaval é questão racial, pois nossa cultura está intrinsecamente ligada ao discurso e práticas racistas.

Questão racial nas fantasias, afinal, a nêga é maluca. No carnaval, é legítimo ter a pela branca com mascaras negra. Sim, o racismo é banalizado, pois que mal pode haver numa brincadeira de “ser” preta (o)?

No carnaval, é permitido cantar para a nêga do cabelo duro que não gosta de pentear, quando meu cabelo duro é assim, cabelo duro de pxaim... Tantas (os) são artistas que exaltam a preta (o), que pejorativamente cantam pra nós, para eles, para brancas (os). São tantas (os) que reproduzem o racismo através da música, da arte. Assim é o carnaval na Bahia, o único momento – além do bronze do verão – que ser preta (o) é bonito, ou melhor, é exótico, é fantasia... Nem vou citar as (os) pretas (os) que reproduzem essa lógica da nega maluca, afinal, essas (es) vivem o complexo de inferioridade (Fanon, 2008), o racismo faz isso, nos faz estabelecer uma relação de comparação (Fanon, 2008) entre uma preta e outra, sob a lógica da pigmentação, ou popularmente conhecido como pela mais “clara” ou mais “escura”, mas a (o) negra (o) vítima de uma cultura racista reproduz e produz em si o embranqueamento devido ao sepultamento de toda uma história, de todo um povo. Como construir uma referência positiva da (o) negra (o) se sua representação social não é valorizada? Não é afirmada? Não é de AFIRMAÇÃO?

Por: Tairine Santana -  PET Afirmação


Referências


MOORE, Carlos. Racismo e Sociedade: novas bases epistemológicas para entender o racismo. – Belo Horizonte – Mazza Edições, 2012.

FANON, Frantz. Pele Negra Máscaras Brancas. Tradução de Renato da Silveira. Salvador: EDUFBA, 2008.

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